quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Que é Pior: o “Profeta” que Mente ou o Pierrô que Fala a Verdade?







Carlos Moreira

São 6:00h. da manhã. Em alguns instantes vou postar este texto no blog... Estou escrevendo tão cedo porque acabei de ser acordado. Vida de pastor... Telefone sempre ligado para atender pessoas que possam estar com problemas...

Eram 5:30h. quando o Leandro me ligou. Obviamente estou usando um nome fictício. O Leandro converteu-se há pouco tempo. Vem de uma história de vida complicada. Era um cara rico que, de repente, se viu sem nada. Perdeu tudo: casa, dinheiro, amigos, dignidade, esposa e filhos. A culpa maior é dele e ele sabe disso. Não reclama, não usa de auto-indulgência, não faz racionalizações; tem feito como Davi: “pequei contra Deus”.

Quando o telefone tocou e eu vi seu nome no aparelho já sabia do que se tratava... Atendi com voz rouca, pois estou doente desde quinta. Do outro lado havia alguém chorando. A voz embargada tornava-se ainda menos inteligível pelo estado de embriaguês. Sim, meu amigo estava bêbado, saindo de uma festa, desencontrado de sua alma, sozinho no meio da multidão.

“Pastor!”, disse ele, “Eu acabei de pregar para os seguranças da festa. Sei que estou bêbado, mas falei do amor de Deus e da misericórdia de Jesus. Agora estamos todos aqui chorando: eu, porque não deveria ter vindo a esse lugar, esse ambiente não pode me acrescentar mais absolutamente nada, simplesmente não faz parte de mim. Eles porque, mesmo sóbrios, estão esvaziados de significados, estão vivendo sem um propósito, sem conteúdos e valores que possam ressignficar suas consciências e trazer-lhes vida ao ser”.

Não havia muito que eu pudesse fazer... Ainda estou com febre... Dei-lhe algumas orientações e voltei para a cama. Não consegui mais dormir... Levantei e liguei a TV. Em certo canal, um “apóstolo” estava pregando a “palavra” de “deus”. Loucura! Nada do que dizia era Evangelho, tudo estava torcido para atingir seus propósitos: enganar os incautos, iludir os desesperados, alienar os desiludidos, arrebanhar os perdidos, espoliar os que nada possuem, roubar a esperança dos desgraçados, “quebrar o caniço esmagado e apagar o pavio que ainda fumega”.

Mudei de canal. Essa gente me dá náuseas! Caiu num filme do Harry Potter. Era bem melhor! Prefiro o feiticeiro de “verdade” ao de mentira... Fiquei vendo as imagens na tela, mas minha mente não estava ali... No meu íntimo fazia conjecturas: “o que é menos danoso ao ser: um falsário sóbrio ou um bêbado verdadeiro? É melhor ouvir a mentira do “profeta”, que fala sem ter ingerido álcool, ou a verdade do pierrô que passou a noite “enchendo a cara”?”. As perguntas se amontoavam em mim... Lembrei de Nietzsche: “o fantasioso nega a verdade para si mesmo; o mentiroso apenas para os outros".

Triste o povo que não tem profetas para admoestá-lo! Em meio à aridez humana de nossos dias, “quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma”, prefiro ouvir as “loucuras” do bêbado às “verdades” do “santo”. Não obstante, ambos estão errados: o primeiro em seu proceder; o segundo em suas intenções.

Do fundo do coração, todavia, acho mais fácil a pregação do “pierrô” surtir efeito, pois trás em si a Palavra carregada de paixão, sem distorções ou manipulações, ainda que o “pregador” não esteja em um de seus melhores dias, do que o sofisma eloqüente do “profeta” mal intencionado, que fez “alquimia” das Escrituras com vistas a iludir aqueles que nada sabem sobre a Verdade e, por isso, acabam, como “embriagados”, se satisfazendo com o veneno que lhes é despejado goela abaixo...


Carlos Moreira é culpado por tudo o que escreve. Ele posta no Genizah e na Nova Cristandade.

Fonte: Genizah

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