Por Ednaldo Cordeiro
Ontem li no Púlpito Cristão um artigo de autoria do irmão Avelar Jr. intitulado “O dia em que senti vergonha da Bíblia”, onde discorre sobre a dificuldade que muitos têm de compreender o significado das palavras da edição Revista e Corrigida da tradução de João Ferreira de Almeida, e dizendo que em certa ocasião sentiu, por causa disso, vergonha da Bíblia. Embora concorde que a edição de Almeida possui uma linguagem um tanto densa para o atual estágio educacional da maioria das pessoas, discordo que isto seja um problema da tradução, que podemos considerar arcaica.
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Apesar do irmão Avelar se utilizar do texto de Atos 2.11, quero dizer que a linguagem utilizada nas versões de Almeida, é o nosso bom e velho português, e se ela é uma ilustre desconhecida da maioria dos brasileiros a culpa não é da Bíblia. Desculpem-me a expressão, mas creio que o “buraco é mais embaixo”, o problema não é a dificuldade vocabular da versão de Almeida, mas o nível educacional da maioria da população, diga-se de passagem, composta por analfabetos funcionais que mal sabem escrever o próprio nome e lêem textos simples aos trancos e barrancos. A linguagem usada por Almeida e já “atualizada” diversas vezes, em versões revisadas, revistas, corrigidas e etc. era na época de sua escrita a linguagem usada pela maior parte da população, de forma que palavras como “mancebo”, “varão”, “enxundia”, “ilhargas”, "ósculo", bem como o uso das 2ª pessoas do singular e plural e o vasto uso de mesóclises eram comuns na época.
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O que temos que lutar é por melhores condições educacionais e não por uma simplificação que ao invés de elevar o nível cultural o reduz ao mesmo nível das tribos ameríndias do século XVI. Caso contrário, logo logo teremos a “Bíblia em Gíria”, que em pouco tempo terá de ser atualizada, onde Deus diz a Adão que ele “pisou na bola”, ou Moisés se referindo a José como “mó caô", ou que Davi “mandou ver” ou “botou pressão” em Bate-seba, ou ainda que Judas era o maior 171. Ou quem sabe não seria interessante uma Bíblia em “mineirês”, outra em “baianês” e outra em “caipirês”, afinal, na questão lingüística, existem diferenças regionais suficientes para respaldar esta idéia. Antes que alguma sociedade bíblica compre a idéia, quero dizer que estou sendo irônico, mas se comprar quero royalties.
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Porque ao invés de reclamar das palavras arcaicas, não tentamos melhorar o vocabulário das pessoas que freqüentam nossas igrejas? A popularização da educação foi, sem sombra de duvida, um avanço conseguido pela reforma protestante, pois todos tinham o direito de ler as Escrituras, vamos despertar nas pessoas o desejo de aprender mais, não copiemos um mundo que produz versões condensadas e comentadas das obras de Machado de Assis porque os estudantes não conseguem compreender o português usado por ele.
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Dizem que estamos ficando mais inteligentes, mas quando olho para trás e vejo o nível educacional de muitas pessoas do séculos passados, acho que o nosso nível caiu drasticamente. Podemos até possuir mais informações, um maior conhecimento, mas dizer que estamos mais inteligentes é burrice. Falta-nos prazer pela leitura de bons livros e principalmente da Bíblia, colocar a Escritura de lado apenas por não saber o significado de uma palavra é um atestado de preguiça e impenitência tremendo, pois para que é que existem dicionários? Não sinto vergonha da Bíblia, mas sinto muita vergonha do atual nível cultural e educacional do nosso povo.
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P.S. Este artigo não é uma critica ao artigo do irmão Avelar Jr., mas uma simples análise da situação considerando outro ponto de vista.
Nota: A foto não se encontra na postagem original.
Fonte original: Blog Guerra pela Verdade
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